Eventos que eu organizo

Vou coordenar uma mesa-redonda sobre história da educação musical, que integra a programação do 2o Simpósio Villa-Lobos, que acontecerá na ECA-USP entre os dias 23 e 25 de novembro, com coordenação do professor e pesquisador Paulo de Tarso Salles. 

A proposta dessa mesa redonda é discutir Villa-Lobos como educador, a partir de pesquisas realizadas no campo da história da educação, com temas sobre a música no Brasil que utilizaram um enfoque biográfico. No semestre passado, fui responsável por uma disciplina na pós-graduação em musicologia que tem o título de "Biografia e autobiografia na pesquisa em música". Faz algum tempo que, estudando a produção recente no campo da biografia e da autobiografia, venho pesquisando o potencial desses novos estudos biográficos, surgidos a partir dos anos 80, como uma das formas de abordar a história, e em nosso caso particular, a história da educação. 

As três pesquisadoras apresentarão trabalhos decorrentes de suas pesquisas de mestrado e/ou doutorado, todas elas desenvolvidas em programas de História da Educação, na FEUSP e na UERJ. Temos nos encontrado em congressos e encontros acadêmicos e é muito estimulante poder discutir alguns aspectos da história da educação musical neste Simpósio Villa-Lobos. 

A mesa redonda partiu da seguinte inquietação: será que observar Villa-Lobos a partir de pesquisas sobre contemporâneos seus pode trazer novas questões e novas fontes para se entender a história da educação musical no Brasil? Por que se conhece tão pouco sobre os professores de música que atuaram no Brasil, apesar de serem  tantos atores sociais envolvidos nessa história? O que a biografia e a produção dos colaboradores diretos e indiretos de Villa-Lobos pode acrescentar ao nosso conhecimento sobre a história da educação musical no Brasil, e inclusive sobre a própria biografia e trajetória profissional de Heitor Villa-Lobos?

Convidamos a todos, sejam historiadores, professores, músicos, musicólogos, estudantes...

Mesa redonda: Educação Musical em Perspectiva Histórica
2o Simpósio Villa-Lobos
ECA-USP

Dia 24 de novembro de 2012, sábado, às 14h00 
Depto. de Música da ECA-USP

Participantes:
Susana Cecilia Igayara (USP)(coordenadora)
Jane Borges (UFSCar 
Inês Rocha (Colégio Pedro II - RJ)


Susana Cecília Igayara é Doutora em Educação na linha de pesquisa em História da Educação e Historiografia (FEUSP), Mestre em Musicologia (ECA-USP) e bacharel em Música (Composição) pela ECA-USP. É professora da  Universidade São Paulo desde 2004, com foco em Repertório Coral, Práticas Multidisciplinares em Canto Coral e nos estudos sobre trajetórias profissionais, biografia e autobiografia. É líder do GEPEMAC – Grupo de Estudos e Pesquisas Multidisciplinares nas Artes do Canto. Anteriormente, coordenou o Núcleo de Estudos da Divisão de Música e atuou como regente no Coral do Museu Lasar Segall (1986-1998), foi professora e regente coral na Faculdade de Artes Santa Marcelina (1997-1999) e na Faculdade Mozarteum de São Paulo (2003-2004), fundou e dirigiu o Centro de Documentação Musical da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (1999-2000). Na USP, orienta estágios e projetos em canto coral (repertório, técnica vocal, editoração musical, técnicas de ensaio e musicalização) e coordena o projeto Cadernos de Repertório Coral Comunicantus. Sua edição da Ave Maria de Henrique Oswald está publicada pela Alliance Music Publications (EUA).

Resumo: As professoras de música na época de Villa-Lobos

Este trabalho tem por objetivo discutir a presença de mulheres como professoras de música e regentes de orfeões na primeira metade do século XX no Brasil. Como fontes, foram consultadas as publicações inventariadas na pesquisa, documentos manuscritos de arquivos históricos, documentos oficiais, periódicos, iconografia e arquivos pessoais de professoras de música. O canto, como base da educação musical em instituições escolares, possui uma longa história no Brasil. No período republicano,  as aulas de música foram regulamentadas por legislações estaduais e pela federal e receberam nomes distintos, como por exemplo: Elementos de Música (1890), Leitura de Música e Canto (1892), Música (1905) e Canto Orfeônico (1931), tendo sido esta última modalidade amplamente conhecida e estudada. Na história da educação musical brasileira, a presença de Villa-Lobos foi tão marcante que ofuscou as versões anteriores de ensino musical pelo canto coletivo, fixando uma memória que associa o ensino de música à implantação nacional da disciplina Canto Orfeônico, durante o governo de Getúlio Vargas. A partir do momento em que Villa-Lobos assumiu a coordenação da Superintendência de Educação Musical e Artística, iniciou-se  um processo de forte institucionalização e centralização da educação musical brasileira. A formação de professores foi unificada e a legislação federal determinava os currículos, os conteúdos programáticos, os métodos de avaliação e a regulamentação do exercício profissional. O esforço pela educação musical em todo o território nacional demandava um grande contingente de professores. As relações de gênero mostraram-se uma categoria de análise pertinente, à medida que identificamos que a maioria desses professores de canto orfeônico era constituída por mulheres, cujas biografias e atividades raramente foram perpetuadas na documentação escrita. A partir disso, formulamos algumas perguntas: quem eram essas mulheres, como e por que chegaram a ocupar essas posições no campo da educação musical? ComoVilla-Lobos é citado pelas professoras e regentes de orfeões? Que potencial explicativo trazem os textos publicados por mulheres professoras para a história da educação musical no Brasil? 

Jane Borges é professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), atuando no Curso de Licenciatura em Música, modalidade presencial e no Curso de Licenciatura em Educação Musical, modalidade a distância. É regente coral e pianista, atuando também nas áreas de educação musical, saúde vocal e formação de professores. Possui graduação em Música com habilitação em Piano pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Bacharelado em Música Sacra pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (RJ), Mestrado em Artes pela Escola de Comunicações em Artes da Universidade de São Paulo e Doutorado em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Formação básica e continuada de professores (UFSCar). Coordenadora das atividades de Extensão “Saúde Vocal através do Canto Coral”, com o Grupo Coral Vivo Canto, “Madrigal UFSCar”, onde atua também como regente, e “Musicalizando através do Coro Infantil”, que mantém o Coro Infantil na Escola Municipal Profª Angelina Dagnone de Melo.

Resumo: José Vieira Brandão e Villa-Lobos
O presente trabalho é um desdobramento da pesquisa de nossa Dissertação de Mestrado e tem por objetivo apontar a trajetória profissional de José Vieira Brandão, como músico e educador. Como fontes consultamos todo o material escrito sobre ele, disponível em livros, recortes de jornais e correspondências; verificamos documentos oficiais nas bibliotecas das escolas onde lecionou (programas de concertos e de disciplinas, partituras, livros de Atas e de Registros); material iconográfico; no Museu Villa-Lobos foi possível consultar sua tese de Docência Livre, fotos e documentos que comprovam sua atuação ao lado de Villa-Lobos e no acervo da família (documentos, correspondências, partituras, fotos). Recorremos também ao dialogo triangular através de entrevistas, com sua esposa e com educadores que conviveram com ele. Junte-se a estes dados o fato de termos sido sua aluna, portanto testemunha ocular de sua atuação docente no CBM-RJ, em 1977. Vieira Brandão exerceu sua atividade profissional na cidade do Rio de Janeiro, a partir da década de 30. Recebeu influências de Villa-Lobos, de quem foi amigo, assessor e grande intérprete; participou da implantação e divulgação do Canto Orfeônico no Brasil e exerceu influência sobre várias gerações. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Música, tendo sido indicado porVilla-Lobos para ocupar a cadeira de Nº 36, cujo patrono é Barroso Neto. Orgulhava-se por ser reconhecido como discípulo de Villa-Lobos. Atuou como pianista, compositor, regente e educador. Verifica-se, no entanto, que o maior tempo de sua vida foi gasto como educador musical e regente coral em escolas. Muitas são suas experiências nestas áreas e ocupou lugares de destaque no campo da Educação como professor do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, do Conservatório Brasileiro de Música e do Ministério de Educação e Cultura.



Inês Rocha é professora de Educação Musical do Colégio Pedro II e atualmente integra o naipe de soprano do Coro de Câmara da Pro-Arte.  Doutora em Educação (UERJ), vem publicando, no Brasil, Portugal e Espanha, textos nas áreas de Educação Musical, História da Educação Musical, Musicologia e História da Educação.  É editora da Interlúdio: Revista do Departamento de Educação Musical do Colégio Pedro II e atuou recentemente como pesquisadora bolsista da Biblioteca Nacional – Divisão de Música e Arquivo Sonoro com a pesquisa: “Cartas em tom maior: redes de sociabilidade na correspondência entre músicos e artistas das décadas de 1930-1950”.  O livro Canções de amigo: redes de sociabilidade na correspondência de Liddy Chiaffarelli Mignone para Mário de Andrade, financiado pela Faperj, é fruto de pesquisa para doutoramento. 

Resumo: Liddy Chiafarelli Mignone e Villa-Lobos
Liddy Chiaffarelli Mignone foi contemporânea de Heitor Villa-Lobos e realizou importantes projetos no ensino de música, criando cursos e promovendo ações de grande expressividade no cenário da educação musical no Brasil.  Busco aqui, apresentar de que forma os trabalhos desenvolvidos por Liddy Chiaffarelli Mignone se aproximam ou se distanciam do canto orfeônico proposto pelo compositor.  Como uma marca em sua trajetória profissional, ela atuou inovando em distintos projetos educativos, como professora de piano e canto, deixando importantes contribuições no âmbito do ensino de música para crianças.  Tornou-se mais conhecida, entretanto, com o curso de Iniciação Musical, ministrado no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro.  Esse não foi, contudo, sua única ação profissional, pois ela publicou livros, formou professores especializados de piano e de Iniciação Musical.  Muitas de suas ideias permanecem atuais e relevantes, pois, em sua concepção, o importante era desenvolver o potencial musical de cada indivíduo e proporcionar situações de vivência estética.  Venho utilizando diferentes tipologias de fontes históricas, mas as cartas pessoais que ela escreveu para Mário de Andrade constituem uma fonte privilegiada para a historiografia da educação musical no Brasil, não apenas pelo ineditismo que essa fonte representa, mas também pela abordagem que faço.  Embasada em estudos de autores ligados à História da Cultura Escrita, como Armando Petrucci, Antonio Castillo Gómez, Verônica Sierra Blás e Roger Chartier, analiso a correspondência ativa da educadora em seu conteúdo, materialidade do escrito, distanciamento e aproximação de regras epistolares e nas representações que as cartas evidenciam sobre a educação musical do período.  Essa correspondência apresenta novos dados e permite responder questões sobre sua formação e prática pedagógica que outras fontes não possibilitavam.  Assim, foi possível conhecer um pouco mais sobre o relacionamento entre Liddy Chiaffarelli e seus contemporâneos, evidenciando uma rede de sociabilidade formada por músicos e artistas.  Villa-Lobos fazia parte desse grupo de amigos.  Contrapor a correspondência pessoal com outras fontes diversificadas permitiu compreender como a educadora musical concebia a Iniciação Musical em relação com o canto orfeônico proposto pelo compositor.